Hoje não me movo

 

Hoje não te toco; hoje não te beijo nem te abraço. Hoje estou quieto à tua disposição; apenas corpo solto sem amarras nem vontade.
Hoje não te toco; hoje só tu tens esse poder, o de me fazer ficar quieto inteiramente entregue à tua fantasia, à tua gula de prazer.
O duche quente provocou em mim uma modorra e uma vontade enorme de nada fazer, nem de me mover; de corpo nu e ainda húmido, deitei-me na cama de barriga para baixo com os braços ao longo do corpo e com a cabeça olhando para a esquerda. Fiquei assim largos momentos até te sentir entrar no quarto.
Pelo espelho da cómoda via-te de corpo inteiro olhando para mim; sorrias e com muita lentidão começaste a tirar a toalha de banho que te cingia o corpo. Ficaste nua nessa tua pele de cor acetinada linda que tanto me fascina. Não vias que te via. Aproximaste-te da cama e de joelhos posicionaste-te junto do meu corpo.
Não me movi. Nada dissemos.
Passaste a tua perna esquerda por cima de mim e sentaste-te sobre as minhas nádegas, de tal forma que senti o teu sexo junto do meu rabo. Já não te conseguia ver pelo espelho. Somente te sentia, quente e fresca, com algumas gotas de água morna caindo sobre as minhas costas. As tuas mãos pousaram sobre os meus ombros e o teu tronco aproximou-se das minhas costas, de forma a sentir o pousar lento dos teus seios. Senti os teus mamilos endurecerem lentamente pelo contacto e fricção que começaste a fazer; ao mesmo tempo, a tua língua tocava ao de leve a minha orelha esquerda, provocando-me um arrepio de prazer. Ficaste assim longos momentos, usufruindo apenas o contacto do meu corpo inerte. Depois, senti as tuas mãos mexerem-se por baixo do meu peito e apertarem forte os meus mamilos; desceram lenta mas inexoravelmente para baixo, de encontro ao meu sexo; encontraste-o inteiro e duro e acariciaste-o da forma que quiseste.
Os teus seios continuavam a roçar as minhas costas e a tua pélvis insinuava-se cada vez com mais força nas minhas nádegas.
Levantaste-te o suficiente para que me fizesses voltar de barriga para cima; olhei-te e adorei o teu corpo altivo sobre mim; na mesma posição em que estiveras, subias agora para que o teu sexo se sentasse literalmente na minha boca; não me movia mas não consegui resistir e a minha língua moveu-se dentro dele em movimentos doces; senti-me apenas a respirar pelo nariz, em respiração compassada mas aumentando de intensidade por virtude do prazer que me invadia.
Ainda sentada dessa forma, conseguiste num movimento gracioso trocar a posição, de forma que fizeste uma inversão perfeita; estavas agora com a tua vagina na minha boca e com a tua boca a brincar com o meu sexo.
Conseguimos estar dessa forma o tempo suficiente para enlouquecermos.
Naquele quarto nada mais se ouvia do que o arfar compassado das nossas respirações.
Comecei a sentir o agridoce gosto do teu mar escorrer pela minha garganta.
Já não estava a conseguir aguentar muito mais tempo e parece que adivinhaste esse momento; viraste de novo a posição de forma a ficares virada para mim e sentada sobre a minha púbis introduziste o meu sexo na tua vagina; senti a profundidade da mesma ser invadida vezes sem conta em movimento rítmicos.
A intensidade aumentava segundo a segundo e num momento mágico sentimos que aquele seria o momento da fusão. Foi aí que deixaste cair o teu peito sobre o meu peito e abraçados então, num abraço louco de amor profundo, senti os teus lábios quentes junto dos meus e o teu sexo vibrar em palpitações ao mesmo tempo que o meu orgasmo te invadia as entranhas. Um som rouco proveniente das nossas respirações confundiu-se com os gemidos de prazer que deixaste então sair da tua alma; aquele momento não tem comparação com qualquer outro momento; é um momento único.
Hoje não te toco; hoje não me movo. Hoje sou apenas corpo, loucamente louco.

Quim Nogueira
Lobices

 

 

 

 

 

a funda São - serviço púbico - 2004

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